sexta-feira, junho 22, 2007

Obrigada, JGeria!

Há uns tempos atrás publiquei uma carta neste blogue, cujo título é "Um dia vou escrever-te uma carta". Ora, como na altura apreciei honestamente um comentário que me foi feito, nada mais nada menos que uma resposta a essa mesma carta, e como, por razões que desconheço, a identidade do seu autor desapareceu do blogue, hoje decidi publicá-la... Devo dizer, aliás, que de vez em quando ainda a leio, de tão importante que foi para mim nessa altura... Obrigada, JGeria!
Então aqui vai...

Um dia quando receber a tua carta vou deixar-me pensar em tudo aquilo que sempre sonhei mas que tive medo de me envolver. Vou perceber realmente aquilo que significas para mim, que sempre significaste e que sempre releguei para o sótão das minhas lembranças com medo de me expor, de me fragilizar, de ser o elo mais fraco… Eu sei que pensarei nas tuas palavras escritas mais do que naquelas que trocámos entre sorrisos ingénuos e olhares infinitos, sei que aquelas linhas me marcarão tanto como ao papel branco que lhes dá vida e que a perde por ser o mensageiro da tristeza. Sei que pensarei nelas mais e mais e ainda uma outra vez procurando sem pressas o nó que desfaz o emaranhado em que a minha vida se tornou…Um dia quando receber a tua carta vou ter pena de nunca te ter dito que sempre acreditei que eras a metade do meu eu incompleto. Que me convenci que por isso devias saber, devias senti-lo tão só como eu o senti vezes sem conta mas nunca te disse. Foi tão bom sentir que é possível haver alguém a quem não se precise de dizer nada, dar explicações ou desculpas, apenas estar, sentir, viver!...Um dia quando receber a tua carta vou querer gritar-te que o afastamento que por vezes alimentámos era somente o avesso dos momentos em que estivemos juntos e como cada pano tem um avesso também o nosso afastamento é único e mágico e eleva ainda mais o que por ti sinto…Um dia quando receber a tua carta vou dizer-te, sem chorar, que sempre te senti lá, à minha espera, que sempre me fizeste sentir tão especial e único e se calhar por isso deixei-me voar sem perceber que eras tu as minhas asas…Um dia quando receber a tua carta vou ter pena de nunca te ter dito que às vezes, nas tardes de Verão, quando os meus olhos brilham por detrás de uma sombra interrompida, dou por mim a imaginar como serão bonitos os filhos que havemos de ter… tranças louras e olhares travessos!...Um dia quando receber a tua carta vou ter de te confessar que o teu amor me encheu as medidas, me fez sentir o homem mais feliz deste planeta, me fez sentir tão bem que tive medo de baixar a guarda, de me tornar patético de tão babado. Vou ter que te dizer que sempre resisti a esbugalhar-te essas bochechas e a apertar-te com uma força infinita, a fazer-te rodopiar no espaço e a cair contigo num colchão de nuvens, a gritar alto que te quero muito, que sempre te quis, sempre…Um dia quando receber a tua carta vou tentar lembrar-te se ao menos terei sorrido abertamente quando me acariciaste, se não cerrei os olhos quando me olhaste de frente e me deixaste ver o infinito dos teus e do teu ser, vou tentar lembrar-me se em todos aqueles momentos únicos que passámos teria sido possível eu ter passado, um sinal que fosse, da felicidade que então vivi, tão única e tão especial…Um dia quando receber a tua carta vou saber que de nada vai adiantar tentar explicar-te que sempre deixei para amanhã as coisas que tinha planeado contigo, que sempre achei que teríamos um vida inteira pela frente, que, estupidamente, deixei o “hoje” escorrer-me por entre os dedos, que nada nem ninguém é mais culpado que eu próprio, eu e o meu medo de ser eu…Um dia quando receber a tua carta vou a correr bater às portas do teu coração, deixar para trás este orgulho hediondo que me sufoca, rir-me daqueles que hão-de gozar com a minha figura de homem apaixonado, pateticamente apaixonado!Um dia quando receber a tua carta…
JGeria

1 comentário:

J º º G disse...

A originalidade não está na imagem reflectida num espelho, está na própria imagem.