quinta-feira, outubro 04, 2007

E depois...

Chegou e olhou à sua volta. Demorou os olhos pelas ruas que outrora lhe haviam sido tão familiares e sentiu um nó na garganta. Já nada daquilo lhe pertencia. Começou a andar, a andar freneticamente, na esperança de reconhecer odores, pessoas. Entrou no café da aldeia mais próximo e nada... Nada do que tinha sido o seu mundo, a sua vida. Apeteceu-lhe gritar, mas algo a paralisava, a demovia. Sentiu-se impotente, mas, sobretudo, triste. Chegara agora à conclusão de que, no momento em que decidira seguir aquele caminho, estava a entrar numa viagem sem retorno.


5 comentários:

Vitor Miguel Almeida disse...

Pois, é fantástico como as pessoas por vezes se ilustram e se colocam na pele dos textos e o interiorizam como se da sua história se tratasse sem que quem a escreveu conheça a nossa própria história...
Simplesmente FANTÁSTICO!

J º º G disse...

Ele já deveria ter chegado! Ainda perguntava a si mesma se deveria perguntar-se sobre o porquê de ali estar. Todos a tinham desaconselhado. Todos. Mas também não havia um que fosse que pudesse entender o que sentia. Nem um.

Só ela sabia. Não sabia explicar com palavras ditas, mas sentia-o no fundo do seu ser, da sua alma apertada. Talvez o Zé a tenha percebido, ou pelo menos teve a decência de ficar calado, especado com aquele ar de perdedor que seria sempre fosse qual fosse a atitude que tomasse. Era o marido, porra! Tinha direitos. Direito de opinião, direito de ficar calado. Não se sabe bem porquê mas um daqueles milagres de todos os dias tinha juntado aqueles dois e algo dizia que, sem saberem bem porquê ambos sabiam porque faziam o que faziam.

De repente ao longe um vulto aproximava-se. Descontrolado na pouca luz que as paredes devolviam. Trazia talvez malas, ou fossem só sacos, algo que deixou cair e que o libertou na corria que agora o empurrava num frenético bater do coração.

Ela parou, correu, parou, ficou doida, não sabia o que fazer, nunca soube, sentia que as veias eram fracas para o trovejar do coração. Tinha suores frios e as pernas, se corriam era sem ordem do corpo, tinha a cara molhada, olhos abertos e as mãos que se exprimiam com dor.

Já à vista puderam sentir por entre o molhado dos olhos que era ele, ele e aquele grito que ficou para sempre a ecoar no coração dos que o ouviram,
- Rosa!...
- Ilidio...

F Geria disse...

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...", por vezes sentimos que somos um gato no mundo cão...
"Num rio nunca se banhamos duas vezes na mesma agua...", a propria vida é uma viagem sem paragens...

J º º G disse...

-Carlitos...
-Ilidio!

Joaninha disse...

Como quando se olha para uma fotografia da nossa infância e se vê tudo cor de sépia - mesmo estando as linhas e as formas a viva cor...
Um grande beijooo - para as Barbaridades há sempre retorno.