domingo, outubro 19, 2008

Acto de Escrita

Já há muito que não escrevo, é certo. Estes últimos meses – carregados de acontecimentos – passaram tão vertiginosamente que o meu pensamento e emoções não tiveram sequer ritmo para os acompanhar. Sinceramente, ainda não cheguei a perceber se esse período foi caracterizado pela ausência de pensamentos se por pensamentos em excesso. A verdade é que tanto uma como a outra situação me impossibilitaram de escrever.
Escrever é mentir. Através da escrita, invento pessoas, lugares, objectos que, na realidade, nunca chegaram a existir. São pedaços de Vida que crio na imaginação e que acabam por se tornar reais. Quando escrevo, sinto a alegria e a tristeza das personagens que invento como se das minhas próprias alegrias e tristezas se tratasse. No fundo, estas invenções traduzem o desejo que todos nós possuímos de ter outra vida que não a nossa. Por isso, quando alguém me diz que, mesmo que tivesse a oportunidade de voltar atrás no tempo, não alteraria nada na sua Vida, não acredito. Há sempre algo, por mais ínfimo que seja, que gostaríamos de ver alterado. E é, por essa razão, que criamos estórias, um mundo fictício que desejaríamos ser o nosso.
Sempre estive convicta de que a verdadeira Saudade é aquela que sentimos pela pessoa que nunca chegámos a ser.

4 comentários:

Joana Pinto disse...

Bárbara, este teu regresso à blogoesfera é sempre bom!
As tuas palavras espelham imensos sentimentos comuns a muitas pessoas, inclusivamente a mim...
Se a escrita é um acto de mentira já não, sei que me acompanha e me liberta...
O passado? Admito que voltaria atrás e mudaria algumas opções que fiz...Provavelmente erraria de novo, mas aprenderia novas vivências. Mas faria diferente muitas coisas, sim.

Nuno disse...

Bárbara, fico feliz por ver que o teu blogue voltou a ganhar vida. Temia que um dia acabasses por fechar este espaço que eu me habituei a visitar. O teu regresso fez-me acreditar que isso, para já, não vê no horizonte. Espero que a tua escrita seja tão ou mais frequente quanto antes da pausa.

Não concordo contigo quando dizes que "escrever é mentir". O facto de criares um mundo só teu não significa que estejas a criar uma mentira. De alguma maneira, esse mundo só teu existe, logo, é verdadeiro. Pode ser inacessível a todas as outras pessoas mas, ainda assim, verdadeiro. É esse mundo que te ajuda a andares para a frente, a lutar por tudo aquilo em que acreditas, ajudando a fazer deste mundo em que vives o mais próximo possível àquele que tu imaginas e que tens como ideal.

Obrigado por teres regressado. Um beijo,
Nuno.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Parabéns pela apresentação do seu blogue.
Conhece o meu blogue
http://trans-ferir.blogspot.com ?
Apareça dia 25 Novembro 2008 às 18,30 h na Livraria Books and Living do CC Cidade do Porto, para o lançamento do meu novo PEQUENO LIVRO DE AFORISMOS. Entrada livre!
Saudações
Vitor O. Jorge

J º º G disse...

Sou uma das personagens da tua escrita. Não me reconheces porque ainda não escreveste nada comigo, sobre mim ou relacionado. Sei que isso te deixa desconfortável mas qualquer dia acabarias por descobri-lo. É verdade. Não tens o poder absoluto sobre as tuas personagens. Umas conseguem escapar-se à teia das tuas estórias. Eu fui uma delas!
Gostarias talvez de saber como me chamo, o que faço em que estórias me embrenho. Não. Nada disso te direi. Dir-te-ei antes como me sinto. Como me sinto assim livre, livre das balizas com que barricas os teus personagens habituais, numa linha que julgas ser só tua e que controlas ao milímetro. É. Nunca tinhas pensado nisso. Mas mais do que tentar dizer-to vou demonstrar-te do que sou capaz agora que sou livre e absolutamente fora do teu controlo.
Posso ser informal, coloquial, brejeiro até. Dar erros gramaticais com fartura sem me importar peba. Abusar de onomatopeias, tipo, iiiiiiiihhhh, relinxando como um cavalo alado e de cavalo posso copiar cheiros e porte, ser sensual e másculo ou fino e amaricado, posso ser preto e burro ou burro e branco. Posso ser porco, sabastro, posso ser delicado até cair para o amaricado, que nada poderás fazer. Estou frenético, estou possuído, drogado, snifei umas linhas, bebi uns copos, uns grogues, comi umas limas, roí umas peras , umas unhas. Pintei-as, pintei um quadro, fiz uma exposição, verbal, um colóquio uma serenata, tirei a gravata, tirei da gravata uma nódoa, tirei um coelho, um escaravelho de uma orelha, fiz uma estética, cirurgia cardiovascular, vomitei na limusine, champanhe francês como o mordomo que me possuía à bruta por trás, pela frente da gente que se apressa nos cumprimentos, me elogia, me pavoneia e me odeia, fiz um aborto, estou torto, sou paraplégico, gosto de fressura com maionese, da catequese lembro a catequista, cheirava a alho, tinha mau hálito e hábito de me tocar nos carrilhões da igreja onde o padre que eu era bebia o vinho com pão de roer o rei da Rússia onde a vodka que bebi perdi. Não tenho uma estória nem uma história. Não faço parte de nenhum enredo, apenas sou de qualquer maneira e isso nunca puderás mudar. Tentarás dizer que não sou tua personagem, que nunca me idealizarias e é essa a única coisa em que tens razão. Até mais ver!