domingo, janeiro 18, 2009

Vida: direito ou obrigação?!

Quero morrer. Não sei mais que estou fazendo por aqui. Não vejo sentido em continuar uma existência em que sou apenas um mero observador dos acontecimentos e vidas que me cercam. Dou um grito de angústia expressando esse desejo de fechar os olhos. O que posso fazer para que as pessoas me compreendam?”

Excerto do filme “Mar Adentro”

Entendo a Vida Humana como um processo natural que engloba uma vivência social e individual, regulada pela norma social, mas salvaguardada, sempre, pela livre escolha do indivíduo. Nesse sentido, a propriedade sobre o próprio corpo deve prevalecer como o mais básico sinónimo de liberdade, embora a maior parte das vezes isso não se verifique. Na verdade, conquistámos o direito de manipulação do nosso corpo mas não o de decisão sobre ele. Vivemos, ainda, sob a alçada da retrógrada Igreja, num obscurantismo mórbido que viola, sem qualquer tipo de pudor, a consagração do Estado de Direito.
Mesmo assim, e ainda que muito lentamente, vão-se verificando alguns progressos. A despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez é prova disso. No entanto, há ainda um longo caminho a percorrer, nomeadamente no que se refere à questão da Eutanásia.
A propósito disso, convém referir que a Vida é um direito inalienável, mas com que direito se tende a manter viva uma pessoa quando ela já nem sequer possui meios para a sua fruição? Recuso-me a aceitar que, a todo o custo, se mantenha vivo alguém que vive artificialmente, sem qualquer perspectiva de melhora, utilizando o argumento de que a Eutanásia é um atentado contra o direito à Vida. Pessoas que utilizam esse tipo de argumentos não devem saber que a Vida não se resume somente ao plano biológico, mas também ao pessoal, social, cultural, económico e psíquico. Pessoas que utilizam este tipo de argumentos esquecem-se de que a Vida não é uma obrigação, mas um direito.
Só é pena que hoje em dia, e num Estado que se diz laico, ainda se continue a seguir os princípios absurdos da Igreja Católica, que, em nome de um qualquer argumento absurdo que diz que o nosso corpo não nos pertence, prefere continuar a prolongar o sofrimento de várias pessoas, demonstrando um profundo egoísmo e uma grande falta de amor e compaixão pelo próximo. Na verdade, e como já alguém dizia, o mais incondicional dos amores é o que deixa o outro partir.

10 comentários:

C Geria disse...

A eutanásia é daqueles temas que nunca irá gerar consenso. Concordo que cada um seja livre de fazer o que lhe bem apetece ao próprio corpo. Já as ideias "retrógradas" da igreja vão se perdendo ao longo do tempo, fazendo assim com que a igreja deixe de ter a importância que tinha na altura da inquisição.

Anónimo disse...

A Vida é um Direito e não uma obrigação!
Quando o Humano deixa de Viver, passando a "vegetar"....Não é Vida!....Vida é sentir, amar, ter objectivos....
vegetar é viver estando morto!

Joana Pinto disse...

O dealbar do meu blogue ficou marcado por esta questão também.
Sempre fui e serei a favor da eutanásia!Viver e morrer com dignidade é um direito que a todos assiste!Religião ou crença alguma deve ultrapassar os limites da ordem humana.

Nuno disse...

A eutanásia, tal como o aborto, são questões que mexem muito com as pessoas. São decisões sobre as quais não há consenso e podem levar a grandes discussões, como se viu com a questão da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) - fica mal dizer aborto(!).

A grande diferença entre o aborto e a eutanásia reside na opção de escolha. Os que estão contra a IVG argumentam que não se está a dar a hipótese de escolha ao ser que se está a gerar. Toma-se uma decisão unilateral que vai afectar a parte que não está a ser ouvida. Essas pessoas até podem ter razão, não vou discutir isso. Mas na eutanásia, a pessoa pode escolher se quer continuar a viver uma vida sem futuro ou não (nos casos em que está em condições para o fazer).

Por vezes imagino-me no lugar daquelas pessoas que estão acamadas, vítimas de um AVC. Questiono-me se elas têm consciência do estado em que estão. Hoje, eu sei que muitas delas não vão melhorar e vão passar o resto dos seus dias naquela situação. Pergunto-me se elas têm essa percepção. Se sim, é horrível!!! Estar numa situação que não lhes permite, sequer, gozar a vida que ainda lhes resta, estar ali apenas a respirar, mais nada! É horrível. E o pior de tudo é que não há solução possível. Não há nada que se possa fazer para melhorar a sua situação, excepto dar algum conforto. Daí até à morte, é sempre a descer. Por que não acelerar essa descida e evitar o sofrimento?

Já nem interessa muito se se morre com dignidade ou não. Interessa sim o facto de se aproveitar a vida ao máximo ou não. Estar aqui só por estar não é nada! Como disse a Marina e bem, "vegetar é viver estando morto"!

Beijinhos,
Nuno.

Pudim disse...

Concordo, na generalidade, com o teu texto. A Eutanásia poderá permitir o fim de um sofrimento bastante doloroso e degradante, que apenas devora um resto de dignidade humana.
A questão do aborto não deverá, em meu entender, ser colocada no mesmo plano, uma vez que envolve outros indivíduos, nomeadamente o pai e o feto. Mas isso são contas de outro rosário.

Anónimo disse...

Só vim comentar a palavra chave do teu blog.. " os loucos são as pessoas certas numa sociedade errada".. MT certo, olha eu . A volta da minha casa há muito maluco, então a velhinha das empadas, começa-me a bater com a esfregona sempre que lhe peço um bocadinho. Bem que podia se mudar. Tenhu uma grande tentação pelas empadas.. eheheheheheh.. WOODY

Anónimo disse...

Qual rosário? A do Mendes?

J º º G disse...

Cada um é dono do seu corpo e da sua vida! Claro! Mas de que faceta de cada um estamos a falar? Daquela que quando eufórica de felicidade beija as pedras da calçada e abraça os troncos das árvores ou daquela que no lodo de uma depressão persegue uma psicótica vontade de saltar de uma ponte? Se não estamos a falar da pluralidade das facetas de cada um então estamos a falar de quê, dos outros? Os outros apoiarão a decisão, essa decisão, por nós , os “vegetais”? Com que autoridade e saber? A dos Deuses?
Quem em plena consciência consegue antecipar o fim de uma vida, mesmo a de um “vegetal”? Os médicos? Os amigos? A sociedade? Os filhos? Os incomodados? O cônjuge? O próprio? Qual próprio, o da eufórica felicidade ou da profunda depressão? Quantas vezes a vida já surpreendeu tudo e todos: a ciência, os médicos, os psicólogos, o próprio, quantas?
A que se está a jogar? A vida contra quê? Contra nada? A ínfima possibilidade de uma reviravolta contra a nulidade de coisa nenhuma? Que dor é maior? Há um maior quando se fala de dor?
Não me enganarei muito se afirmar que, felizmente, dos que me antecederam nestes comentários, a maior dor que já tiveram foi … muito provavelmente um arrufo de namoricos. Quantos já viram uns olhos fecharem-se para sempre? Quantos viram uma pele ficar pálida de morte? Quantos perderam um ente querido? Quantos choraram com uma dor que queima à passagem de um grito preso na garganta e desejaram mil vezes que o tempo voltasse para trás uns minutos que fosse? Quantos tiveram nas mãos sangue e impotentes não conseguiram impedir que a vida de um desconhecido se esvaísse no alcatrão? Quantos sentiram o poder do olhar de um filho, vegetal ou não? Quantos assistiram a um parto? Quantos passaram dias numa enfermaria a ouvir gritos de desespero à noite? Quantos já ouviram os avós contar estórias da vida e se aperceberam da sorte de ambos? Quantos estremeceram num abraço? Quantos tiveram vontade de dizer a um amigo que gostavam dele? Quantos o fizeram? No cinema, sim. A ler um bom livro, talvez. E na vida? A vida. Porque a vida surpreende. Porque a vida permite todas as possibilidades, todas. Porque, de facto, só a vida é… vida!

Pudim disse...

J. Geria, discurso digno de uma homilia de Natal. A tecla do ponto de interrogação bloqueou? Já não lia tantas perguntas seguidas desde que deixei de ver o Jogo Duplo.

F Geria disse...

De longe a eutanásia será uma questão consensual.
E claro que fácil será estarmos todos aqui a opinar… mas seria assim tão fácil se a decisão de manter ou parar a “maquina” recaísse sobre algum de nós?...
Legalmente a vida está acima de tudo, é o bem mais precioso, o nº 1 do artigo 24º da Constituição da Republica Portuguesa, refere a vida Humana como inviolável.
Ver a vida esvair-se, como um punhado de areia seca a cair por entre os dedos, digo-vos, não é fácil, quando de tudo se faz para a manter.
Referiu um profissional médico que onde há esperança existe vida, dando de seguida exemplos de comas profundos, e paraplégicos que recuperaram bastante com acompanhamento médico… a medicina encontra-se em constante evolução, o que hoje é mentira, amanhã é verdade…
Tornarmo-nos improdutivos e dependentes de tudo e de todos, até para as necessidades básicas… terrível…
A eutanásia terá que ser sempre a excepção e nunca a regra… cada caso é um caso…