quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Esquerda, by José Saramago

Temos razão, a razão que assiste a quem propõe que se construa um mundo melhor antes que seja demasiado tarde, porém, ou não sabemos transmitir às pessoas o que é substantivo nas nossas ideias, ou chocamos com um muro de desconfianças, de preconceitos ideológicos ou de classe que, se não conseguem paralisar-nos completamente, acabam, no pior dos casos, por suscitar em muitos de nós dúvidas, perplexidades, essas sim paralisadoras. Se o mundo alguma vez conseguir ser melhor, só o terá sido por nós e connosco. Sejamos mais conscientes e orgulhemo-nos do nosso papel na História. Há casos em que a humildade não é boa conselheira. Que se pronuncie bem alto a palavra Esquerda. Para que se ouça e para que conste.
Escrevi estas reflexões para um folheto eleitoral de Esquerda Unida de Euzkadi, mas escrevi-as pensando também na esquerda do meu país, na esquerda em geral. Que, apesar do que está passando no mundo, continua sem levantar a cabeça. Como se não tivesse razão.
Publicado em O Caderno de Saramago

7 comentários:

Bárbara Quaresma disse...

Não poderia deixar de publicar este texto de Saramago... Também eu partilho a ideia de que, sem a esquerda, as classes mais desfavorecidas da sociedade ainda teriam piores condições de vida... Só lamento o facto de o povinho não ver as coisas dessa maneira, mas enfim... E entenda-se que quando falo de esquerda, não incluo o PS, pelo menos o PS de José Sócrates!

Nuno disse...

Há sempre uma aversão enorme à mudança. Independentemente de ser uma mudança para melhor ou para pior, venha ela da esquerda ou da direita, a verdade é que fazer algo novo é difícil. E é difícil porque, quem quer fazer alguma coisa, depara-se sempre com uma enorme resistência.

O facto de existir uma esquerda e uma direita, ajuda a equilibrar a balança, não orientado o país e o mundo num sentido que apenas agrada a alguns. O ideal seria que o país adoptasse uma estratégia consensual, que agradasse a maior parte dos portugueses. Todavia, bem sabemos que é impossível agradar a gregos e a troianos.

Eu tenho medo dos extremos. Ao ler a História, temos conhecimento que um país governado por qualquer um dos extremos (direita ou esquerda) tem tendência a ser conduzido para uma ditadura. Vimos isso na Alemanha (com a direita) e vimos isso na União Soviética (com a esquerda). O ideal seria, portanto, um bloco central onde se incluíssem as filosofias e ideias de ambos os lados. Neste momento, o que o Governo de Sócrates faz é dar uma no cravo e outra na ferradura. Faz uma coisa bem, para a seguir fazer uma coisa má. Apoio algumas medidas tomadas e que já deviam ter sido tomadas há muito tempo, mas há outras que parecem ser um retrocesso. Mas o que mais angustia no meio disto tudo, é não ver alternativas que mostrem confiança. Tanto o governo como a oposição são um deserto a nível de ideias e estratégias! Não sei onde isto irá parar.

Beijitos,
Nuno.

Joana Pinto disse...

É verdade, sim senhora,que tem sido a Esquerda a maior conquistadora de direitos pela liberdade e igualdade entre todos nós.Tem sido a Esquerda que mais tem lutado pelos direitos dos trabalhadores e de todos os pés descalços...
Foi a Esquerda que lutou para que todos,da esquerda à extrema direita (os que menos promovem a liberdade), pudessem ter assento em democracia e tempo de antena para expor as suas ideias e ideais.

Joana Pinto disse...

Nuno,
também receio extremismos e apoio, como tu, algumas medidas deste governo.Só posso reconhecer a coragem deste executivo por querer mexer em poderes classistas instalados.
Só posso concordar com a avaliação dos professores,egoístas, acomodados durante anos,nunca unidos e extremamente falsos uns para os outros.O processo pode estar mal,aí dou a mão à palmatória, pois não estou por dentro.Mas avaliação?Sim,e para todos!

Nuno disse...

Joana Pinto não podia estar mais de acordo contigo! Muita polémica em torno de algumas reformas deve-se, sobretudo, ao facto de elas mexerem com poderes instalados. Tens toda a razão naquilo que dizes.

Bruno Julião disse...

Vim aqui ao teu blogue e não resisto em dizer-te que, ao contrário de ti, Saramago inclui também o PS na esquerda dele, por exemplo, para Lisboa ;-).

Bárbara Quaresma disse...

Bruno,

Ainda não há muito tempo, existia uma coligação entre a CDU e o PS, no que diz respeito à Câmara de Lisboa. Dois partidos de esquerda, pelo menos na sua essência, que se uniam e formavam uma boa força política, pelo menos na minha opinião. Acontece que o PS, a meu ver, tem, ao longo dos tempos, vindo a afirmar uma política mais à direita, com a qual, sem dúvida alguma, eu não concordo. O estilo convencido, autoritário e arrogante de José Sócrates metem-me nojo. A mim e a muita gente!